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sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Museu de SP recebe exposição de fotografias para deficientes visuais

Usando resina líquida e uma impressora 3D, o artista reproduz fotografias em alto relevo para traduzir imagens a quem não pode enxergar.

Phelipe SianiSão Paulo, SP










Em São Paulo, um fotógrafo usou resina líquida e a tecnologia das impressoras 3D para criar imagens em alto relevo. Assim, quem não enxerga, pode 'ver' as obras de uma maneira diferente.
A iniciativa partiu de quem não aguentava mais usar os olhos sadios pra enxergar uma amiga de infância cega sofrer bullying na escola: o fotógrafo Gabriel Bonfim Santos. "Pegavam as coisas da mochila dela, pediam pra ela parar de fazer barulho com a máquina de braile dela. Quando ela pedia silêncio, faziam mais barulho ainda, para atrapalhar", conta Gabriel.
Essa amiga, atualmente, é pianista e responsável pelo som ambiente na sala da exposição, tocando ao vivo para os visitantes. Sabe-se que, além de dom, para fazer boa música também tem que ter disciplina, habilidade e ouvido treinado. E tem ouvido mais aguçado do que aquele que compensa o que os olhos não vêem? "Eu sou cega desde bebê, prematura. Todo mundo nasce com uma aptidão. Uns pra tocar, outros pra cantar, cozinhar, outros pra pintar, esculpir, enfim. Tudo na nossa vida é questão de aptidão", diz Marcela Trevisani. E não é por acaso que toda essa aptidão a levou até lá. Só alguém como ela pra entender a importância de se estimular outros sentidos, fazê-los migrar. Porque se os olhos faltam, a audição emociona.
E se os óculos escuros escondem a deficiência, é para a ponta dos dedos que vai a visão, dando a oportunidade de, pela primeira vez depois de muito tempo, realmente ver uma exposição de fotos. Dos detalhes do piso ao cadarço do sapato e a barra da calça dobrada, tudo aparece! "Tem o rosto de uma pessoa, o corpo, com braço, posicionando num teclado de piano. E que supostamente uma pessoa um pouquinho mais alta estaria aqui do lado dele", diz o engenheiro aposentado Irineu Costa, que perdeu a visão em 2011 e hoje descreve o que vê em cada fotografia.
São 24 telas que vão muito além do que as explicações em braile das plaquinhas embaixo. Tudo lá é muito branco e isso tem um motivo: é para acabar com aquela ideia de que a cegueira é a eterna escuridão.
Michel de Oliveira, de 26 anos, explica a cena que vê com os dedos, enquanto tateia-os sobre a fotografia: "Os dedos, dá pra ter uma noção que tem uma mão aqui. Como se estivesse dançando, porque está com as pernas bem separadas uma da outra", diz. "Você vai descobrindo e construindo com as informações do tato que você tem, você vai construindo essa imagem pra você entender o que ela quer passar, o que ela quer representar", afirma Irineu.
Até quem é representado nas obras entende bem a importância disso tudo. Boa parte das fotos é do tenor Andréa Bocelli, cego desde os 12 anos de idade. Alguém que nunca teve a oportunidade de se enxergar em uma foto atual. Na exposição ele conseguiria. E se, por um acaso, o relevo da impressão 3D engana, o braile ajuda. "Andrea Bocelli... uma jaqueta... óculos escuros. Ajusta microfone para o ensaio no palco", traduz Alexandre Rodrigues Barbosa, o que está grafado na placa.
O fotógrafo Gabirel está satisfeito com o resultado. "Eu sempre quis ajudar de alguma foram com meu trbalaho que nao fosse vender o meu trabalho, pegar meu dinheiro e doar, mas que fosse com a fotografia mesmo", conta ele. Pelo jeito, deu certo. Logo na entrada, as placas indicam os caminhos - para um lado, vão os que enxergam vendo, que ficam um pouco mais distantes das obras. Para o outro, vão os que enxergam tocandom que ficam colados nas telas, invertendo a lógica das exposições tradicionais, que não permitem que o visitante encoste nas obras. Mas tanto para um quanto para outro, o termo usado é o mesmo: enxergar. Como enxergar, é só um detalhe.
A mostra fica no Museu da Imagem e do Som (MIS), de São Paulo, até o dia 22 deste mês. A entrada é gratuita
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